NAVEGAÇÃO

Análise de dados: o ponto chave da transformação digital

Em 2019 e segundo dados de um inquérito feito pelo INE às organizações, só 10% das empresas portuguesas recorreu à análise de big data. Um cenário que pode ter sofrido alterações no pós pandemia mas que ainda tem um longo caminho a percorrer em Portugal.

A digitalização acelerada dos negócios trouxe consigo uma enorme quantidade de dados que, ao serem trabalhados na medida certa, conseguem transformar-se em informação. Só depois disso é que essa informação se transforma, ela própria, num dos maiores ativos que uma empresa pode ter.

 

As ferramentas de business analytics, no contexto atual, servem para consolidar e tornar universais algumas tendências de mercado que começaram a surgir nos últimos tempos e que aceleraram em consequência da pandemia, dando um novo impulso à aplicação de novas tecnologias e ao desenvolvimento dos negócios, do marketing e da comunicação.

 

A transformação digital está presente em todos os processos empresariais. Não só estão a mudar a forma como as empresas operam, como também a forma de como são geridas.

 

Para pensar, agir e reagir de forma diferente, é necessária uma liderança inovadora capaz de gerar modelos mais transparentes e avançados, capitalizando as oportunidades de mercado em tempo real.

 

Os dados são inerentes ao mundo digital: não se pode falar de transformação digital sem falar de dados. E uma das consequências diretas deste processo de digitalização em massa é a possibilidade de as empresas melhorarem os processos de produção, serem mais eficientes a nível empresarial, automatizarem as funções operacionais e de rotina através da análise cuidada da informação de cada empresa em particular.

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Por isso, as organizações tentam acompanhar da melhor maneira o novo paradigma através de uma maior consciencialização das necessidades.

 

De acordo com a consultora Gartner até o final de 2024, 75% das empresas terão iniciativas de testes-pilotos para novas maneiras de uso da Artificial Intelligence – Inteligência Artificial – um facto que aumentará cinco vezes as infraestruturas em Data Analytics existentes.

 

Até 2023, o mesmo estudo indica que mais de 33% dos grandes negócios terão analistas utilizando inteligência de decisão – Decision Inteligence – para concretizarem as suas escolhas e, até 2022, 35% das organizações serão comerciantes e compradoras de dados on-line.

 

No artigo “Dados. Empresas que fogem da analítica arriscam competitividade”, Luís Gonçalves, data analytics e AI director da consultora tecnológica Noesis, explica que “há uma cada vez maior consciencialização para a necessidade de capturar toda a informação que a organização gera e de ter a capacidade de a analisar”.

 

Porém, e segundo o mesmo artigo do Dinheiro Digital, a principal razão apontada pela esmagadora maioria das empresas para este cenário é a “falta de recursos humanos, conhecimentos na área ou ainda uma relação entre custo e benefício pouco atrativa do uso deste tipo de tecnologias”.

 

Para Luís Gonçalves, hoje em dia as “organizações necessitam de maximizar as interações e os negócios com os seus clientes e de serem competitivas para conquistar novos clientes, o que faz com que a informação seja um ativo muito importante para que consigam analisar, por exemplo, o que resulta e o que não resulta nas suas estratégias.”

Obtenha dados para fazer as análises de que seu negócio precisa

 

A HVAR Consulting faz esta distinção de forma simples, destacando as principais características que distinguem os vários tipos de análises:

 

  • A análise mais simples é a análise descritiva, embora seja um procedimento básico de estudo de dados baseados em ações passadas. Pode indicar conclusões bastante completas do mercado;
  • A  análise preditiva, permite prever o comportamento futuro dos dados a partir de registos de históricos. As previsões são possíveis apenas se houver informações armazenadas nos sistemas de informação e inteligência da empresa;
  • A  análise prescritiva  é um modelo de análise que também permite previsões com base em dados históricos, relatando de forma genérica como serão os cenários ainda antes deles ocorrerem e direciona as recomendações através de um modelo estatístico que possibilita a identificação de tendências. Este tipo de análise é muito útil no estudo da concorrência, por exemplo.

 

As bases de dados e a sua análise são a consequência da digitalização. Primeiro digitaliza-se e o prémio são os dados que daí resultarem, juntamente com a automatização e eficiência.

 

A análise de dados é mais fácil em pequenas e novas empresas, uma vez que iniciar a transformação digital não acarreta grandes riscos nos processos de produção. O cenário é ainda melhor para as novas organizações porque têm a possibilidade de nascer digitais, o que acelera o processo.

 

Quais as áreas do negócio a digitalizar de forma a garantir uma análise de dados mais incisiva? A automatização do processo de vendas é muito importante no contexto atual e a razão é evidente.

 

Ao digitalizar as vendas é possível direcionar melhor as suas estratégias junto aos clientes, tornando o marketing mais eficiente, dado que conhece o target da sua empresa e este é um facto relevante.

 

Outra área vital no processo de transformação digital é o backoffice para atender os clientes de forma cada vez mais apurada.

 

Um backoffice ordenado, com dados em tempo real e que seja fácil de operar para evitar desequilíbrios através de informação cruzada e sempre um factor de competitividade num momento em que a customer journey se afirma como determinante para o negócio.

 

Pode ainda garantir que não há erros nos processos de venda e que pode haver atrasos nas entregas devido à falta de stock.

 

Os dashboards permitem, assim, ter uma overview cirúrgica da empresa, facilitando a tomada de decisões estratégicas, de forma eficaz e em tempo real – saiba como ter uma visão clarificada do seu negócio aqui.

 

Data analytics: análise e digitalização de dados no futuro

Numa entrevista recente que deu à PHC, Amparo Nalvarte, co-fundadora da Culqi e fundadora da B89, duas empresas espanholas especializadas no desenvolvimento de soluções digitais, sustenta que as empresas estão longe do objetivo de serem data driven e que este caminho é particularmente mais complicado para as empresas que já estabelecidas e que iniciaram o processo de transformação há algum tempo atrás.

 

A razão para esta situação particular é que estas empresas não nasceram digitais. “Não começaram do zero e mantêm processos tradicionais que não lhes permitem tornar-se uma empresa data driven mesmo para o seu core de funcionamento; este é um processo longo”, acrescenta Nalvarte, salientando que as empresas deveriam encará-lo como fundamental nas empresas a curto prazo, com o objetivo de se consolidarem no novo contexto digital.

 

Para Amparo Nalvarte, outra das tendências que surgirá a curto prazo é a programação empresarial como eixo da digitalização empresarial e especificamente na personalização desta digitalização, para personalizar cada vez mais os procedimentos em resposta às necessidades de cada organização.

 

Os dados e a análise de dados são úteis para inúmeros processos, especialmente se os tiver em tempo real, porque torna os processos automáticos e garantidos, evitando erros e atrasos.

 

Embora existam atualmente empresas digitais que são not code, este cenário deverá mudar a curto prazo: “Em cerca de cinco anos – altura em que espero que a programação seja ensinada nas universidades – 50% das empresas deverão ser digitais ou, pelo menos, dispor de ferramentas digitais”.

 

Para ela: “A utilização de tecnologias dentro das empresas tem um impacto significativo, especialmente nas funções dos empregados, porque já não há necessidade de tantas vagas operacionais, e isto trará grandes mudanças no local de trabalho que exigirão criatividade e novas competências profissionais por parte dos empregados.”

 

No que respeita a liderança e gestão, e em termos de transformação digital e análise de dados empresariais, Nalvarte diz que é importante identificar os seguintes aspetos para acompanhar o processo de forma eficiente:

 

  1. Compreender o que é a transformação digital;
  2. Compreender a lógica da digitalização e como funciona a tecnologia que vamos implementar, com o intuito de construir uma arquitetura empresarial que nos permita identificar eficiências e transformar a empresa;
  3. Otimizar os processos mais críticos dentro das empresas;
  4. Estender o processo de transformação a todas as áreas operacionais da empresa, a pouco e pouco;
  5. Trabalhar e analisar os dados corretamente e, para isso, devemos ter uma única fonte de armazenamento de dados através da sua centralização.

“É importante formar líderes e colaboradores num mundo digital, para que aprendam a utilizar este tipo de ferramentas, e deve ser uma obrigação da gestão empresarial”, conclui.

 

Avanços em Portugal: análise de dados e novas tecnologias

 

As empresas portuguesas avançam timidamente na transformação digital dos seus negócios, aumentando a utilização de tecnologias emergentes.

 

De acordo com Instituto Nacional de Estatística, o ano de 2021 viu aumentar 24% o investimento alocado às tecnologias de informação e comunicação – TIC – devido ao contexto de pandemia.

 

Resultados animadores do inquérito à utilização de TIC na empresas que indicam que cerca de 34,7% das empresas compram serviços de computação em nuvem para utilizar na Internet, o que representa um aumento de 5,7 pontos percentuais face ao ano de 2020. A compra do serviço de correio eletrónico e armazenamento de ficheiros são aqueles que mais se destacam – 88,7% e 70,5%, respetivamente.

 

Mas há mais:

  • Quase 1/4 das empresas (23,4%) utiliza dispositivos ou sistemas interconectados que podem ser monitorizados ou controlados remotamente através da Internet das Coisas (IoT), registando-se um aumento de 10,4 pontos percentuais, face a 2020;
  • Perto de 1/5 das empresas (17,3%) recorre a tecnologias de Inteligência Artificial (IA), sendo as mais utilizadas as que analisam linguagem escrita, identificam objetos ou pessoas através de imagens e que automatizam diferentes fluxos de trabalho ou auxiliam as tomadas de decisão.

 

Quais os setores que assistiram a uma maior transformação?

 

As empresas do setor do comércio foram aquelas que mais investiram (33%), seguidas pelas empresas do setor de alojamento e restauração (30,7%) e pelas empresas de informação e comunicação (30%). As empresas da construção e imobiliárias foram aquelas que menos investiram para vender bens ou serviços na Internet (7,8%), muito devido à natureza do negócio.

 

A consultora IDC, uma das maiores plataformas de partilha, conhecimento e networking sobre TIC e Transformação Digital em Portugal, acredita que a transformação digital vai representar 50% do investimento em TIC, em Portugal, até ao final de 2025, e 55% em todo o mundo.

 

Bruno Horta Soares, leading executive advisor da IDC Portugal, começou por falar das condições que podem mudar estas previsões feitas todos os anos. No FutureScape 2022, avançou que, até 2025, “60% das organizações implementarão serviços dedicados cloud para lidarem com os requisitos de desempenho, segurança e conformidade”.

 

No que respeita ao IoT, as despesas relacionadas com os casos de uso relacionados com o 5G vão “ascender a 1,2 mil milhões de euros em 2025», o que corresponde «a um crescimento anual médio de 12,2%”.

 

Bruno Horta Soares acredita que a “transição tecnológica, a importância cada vez maior da sustentabilidade e a importância do ecossistema”, pode traduzir-se numa “mudança de cultura nas empresas”.

 

Se por um lado o futuro é incerto para as empresas, por outro, ninguém duvida que também é muito desafiante.